A vida é uma ilusão
A vida é uma ilusão
Se a deformação da vida
me faz ver o que não sinto,
terei que perguntar-me, então:
quando estou a ver... minto?
E se mentir é tão feio,
e não se deve fazer,
não me perguntem se minto,
se o que vejo não sei crer.
Talvez minta sem querer,
quando juro estar a olhar,
mas o que os olhos me dão,
não consigo decifrar.
Vêm formas, vêm sentidos,
cores que não têm nome,
e eu, perdido entre os vestígios,
sou verdade? Ou me consome?
Sou reflexo ou sou espelho?
Sou presença ou invenção?
Se a verdade me escapa,
como agarro a razão?
E se a vida me distorce,
como sei o que é real?
Será minha a mentira,
ou será ela o normal?
Já nem sei se há começo,
ou se existo por um fio,
se sou eu que invento o mundo,
ou se o mundo é que me viu.
Há vozes dentro de mim,
que falam como se fossem,
memórias que nunca tive,
verdades que já se esgotem.
E eu calo, finjo firmeza,
mas tropeço no pensar,
se o que sinto é só desenho,
ou se aprendi a inventar.
Será o mundo o que vejo,
ou o que quero negar?
Talvez tudo o que percebo,
seja um modo de escapar.
Mas se a vida me confunde,
e me veste com engano,
não me culpes se eu mentir —
só procuro o que é humano.
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